Como a economia fraterna pode ser colocada em prática?
Adam Smith propôs a liberdade do Ego. Karl Marx foi na direção oposta e criou a teoria da igualdade econômica. Nesse cenário, a humanidade vivia uma dualidade no campo econômico. Esse foi um ótimo momento para incentivar transformações, como a economia fraterna, que vamos explicar mais a fundo neste artigo.
A partir do século XX, alguns pensadores começaram a sentir que tanto a liberdade egóica de Smith e a igualdade de Marx não funcionam em termos de qualidade de vida, economia e justiça social. Assim, surgiu a socio-democracia de Keynes, como uma abordagem de um capitalismo mais fraterno. Sem capitalismo nem socialismo, mas o melhor de ambos, sem o pior de ambos.
O pai da economia fraterna
No início do século, em 1919, Rudolf Steiner criou o conceito da chamada “trimembração do organismo social”, estabelecendo os parâmetros para a economia fraterna que estaria por vir.
Steiner foi um filósofo, educador e artista alemão. Ele ficou principalmente conhecido como o fundador da antroposofia. Além disso, ainda desenvolveu a pedagogia Waldorf, a agricultura biodinâmica, a medicina antroposófica e a euritmia.
O que é a trimembração do organismo social?
Essa teoria estabelece alguns parâmetros para uma vida mais justa, pautada nos famosos pilares usados na revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. A liberdade se aplica no ambiente cultural, espiritual e religioso. A igualdade foca no âmbito político-jurídico. Por fim, a fraternidade engloba a esfera econômica da humanidade.
O raciocínio por trás da trimembração social é de que tanto a sociedade quanto as organizações devem funcionar como um organismo vivo. Nele, todas as partes, no caso membros do corpo, existem de maneira integrada, apesar de terem funções independentes.
A diferença entre shareholder value e stakeholder value
A partir dessa definição, conseguimos diferenciar de maneira mais assertiva as perspectivas do capitalismo tradicional e do capitalismo fraterno proposto por Steiner.
O apego ao lucro desmedido e consumo desenfreado, a exploração da mão de obra e das condições de trabalho e a degradação dos recursos naturais compõem um modelo de capitalismo perverso e egocentrado. Este é o capitalismo do shareholder value, que valoriza os acionistas acima de tudo.
Enquanto isso, acolher as necessidades e as efetivas contribuições dos diversos públicos envolvidos no capitalismo cria um sistema ecofocado. Este se conecta com a geração de valores compartilhados e é comprometido com a construção de vínculos longevos e com o bem estar coletivo. Vale ressaltar que isso não significa abrir mão do lucro, mas focar na comunidade ao redor do seu negócio. Esse modelo é o capitalismo do shareholder value, muito importante para pensarmos na aplicação da economia fraterna na prática.
Os pilares da economia fraterna
Como já mencionamos, a economia fraterna se baseia nas filosofias da revolução francesa. Ela une a liberdade do ego, a igualdade ética e a fraternidade. Nesse aspecto, junto com a perspectiva da trimembração social, existe a perspectiva de uma relação ganha-ganha em que todos se fortalecem a partir de um propósito comum. Existe também a expectativa do altruísmo no sentido de se pensar no todo e no bem comum, não no ego.
Trata-se do entendimento da interdependência e da importância dos interesses coletivos para a subsistência das organizações. Na prática, teríamos estruturas mais horizontais e participativas, acolhimento dos colaboradores, criação de espaços potencializadores para que os indivíduos sejam estimulados nas suas singularidades e garantia de segurança psicológica. Essa mentalidade alavanca o sucesso da empresa.
A relação entre fraternidade e economia está relacionada a novas formas de gerir as organizações, produzir riqueza, consumir bens e, sobretudo, entender o desenvolvimento do capitalismo. Steiner denominou todos esses aspectos de “vida econômica”, onde o espírito básico deve ser o da fraternidade.
Como aplicar a economia fraterna na sociedade atual?
Muitos modelos de negócios vêm se desenvolvendo com base nessas premissas. Dessa forma, as empresas têm transformado sua gestão para incorporar essa abordagem holística e integrativa. Steiner disse que a grande meta da humanidade é o desenvolvimento da via espiritual. Enquanto isso, outros setores deveriam servir de base para que os indivíduos pudessem desenvolver liberdade, criatividade e autodesenvolvimento espiritual.
Essas iniciativas e modelos disruptivos são importantes no mundo dos negócios, porque buscam responder às perguntas que vêm emergindo. Algumas já existem, como o Sistema B, o capitalismo consciente e o framework ESG.
Além disso, já estão se popularizando práticas da economia fraterna como pagar por produtos e serviços de acordo com o que você pode, ou acha justo. Iniciativas como essa fomentam a diversidade, por abraçar realidades econômicas diferentes dentro de um mesmo ambiente. Dessa forma, é possível inclusive aumentar o lucro das organizações. Algumas pessoas acabam não contribuindo tanto quanto podem por acharem que já estão cumprindo seu papel ao pagar o que é proposto, e são incentivadas pelas práticas fraternas.
As empresas possuem um papel fundamental na transformação socioeconômica, porque afetam a humanidade como um todo. É por isso que precisamos apoiar as organizações nesse desafio, questionando as práticas atuais e refletindo sobre a ressignificação da identidade empresarial. Quanto mais nos deixarmos guiar pelos interesses do ecossistema, mais sadio será o desenvolvimento individual e coletivo. Precisamos ser agentes da transformação para um mundo melhor, que valha a pena, e o Yiesia pode te ajudar nessa jornada de transformação.
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